Minhas
ilustradas e meus honrados Deputados Federais da minha, da nossa Pátria Brasil,
desculpem a minha insolência, mas me arrisco, porque sei do compromisso
emblemático de cada um de vós, tenho ciência do sonho, do ideal, da vontade de
cada uma das senhoras, de cada um dos senhores, sei da persuasão íntima e do
sonho indômito e altivo que habita as mais impetráveis profundezas dos vossos
telúricos ideais, que é transformar nossa terra brasileira, numa terra prenhe
de virtudes, de desenvolvimento, de políticas públicas, sociais e de ações
afirmativas, para que nela, para que neste solo, baste o beijo das
oportunidades, para que viremos o paraíso da diversidade, onde reine igualdade,
justiça e muito desenvolvimento.
É neste
horizonte de encantamento, de imaginação real de um país próspero e
igualitário, que alguém, que já sentiu o ardor da fome em seus intestinos ainda
infantes, que já provou do hálito insólito do preconceito, que já viu crianças
famintas e pais doentes das mais lastimosas moléstias e das mais incontidas vergonhas,
que de forma humilde, me dirijo a vossas excelências, num apelo. que sinto ser
da maioria dos nossos patrícios, para apelar pelo NÃOdos senhores, à PEC 37.
Tenho
fundadas razões para lhes estender a mão pedinte em busca das mãos dadivosas,
pois todos os dias, sinto na pele o sofrimento imerecido de um povo, cujo
atraso senhoras e senhores deputados, em sua maior parte, foi causado pela
corrupção, pelo crime organizado, pela sonegação, pela apropriação indébita de
verbas, pela lavagem de dinheiro e pela criminalidade desenfreada, cujos
abomináveis atores, somente a partir da Constituição Cidadã de 1998, um
presente gestado e vindo ao mundo aí no Congresso Nacional, começaram a saber,
a entender, a compreender o que era investigação de verdade, o que era punição.
Senhoras e
Senhores Deputados Federais, quem vos fala aqui é alguém que conhece o Brasil
de fora a fora e sabe que no ventre deste território existe o Brasil dos
poderosos, da abundância, dos chás e do luxo, mas também convivemos com o
Brasil de Mãe Preta e Pai João, e quem lhes dirige o apelo conhece este como
ninguém, este Brasil Caboclo onde nasci e faço questão de manter-me ligado pelo
cordão umbilical enterrado no tronco de um pé de gameleira de um sertão árido e
esquecido, encravado nos despenhadeiros e nas funduras dos áridos poeirões
nordestinos,e que tem plena convicção, que o filho do vaqueiro, do pedreiro, do
puxador de enxadas, nunca senhoras, senhores, se tornará médico para um dia
examinar a filha ou a esposa do patrão. Chocaram? Mas é sabendo desses abismos
sociais, com exemplos duros e até certo ponto cáusticos, que iremos compreender
este outro Brasil, o Brasil Caboclo, o Brasil de Mãe Preta e Pai João.
Mas sei do
ajuste de vossas consciências, do pacto, da convenção de extirpar das nossas
terras este Brasil, e para tanto excelências, precisamos de instituições
fortes, fortes no sentido de serem independentes, legitimadas, que venham a
auxiliá-los nessa luta informe, colossal, descomunal, e subtraindo delas esses
poderes, essas legitimações e garantias, este Brasil que muitos desconhecem
ainda irá permanecer e o Ministério Público do Brasil muito tem feito em prol
dessa causa, com luta, muita luta e dedicação, então apelo mais uma vez,
deixe-o como se encontra, pois a realidade das ruas diz que assim deve ser.
Eminentes
legisladores, numa sociedade com problemas crônicos, cujas raízes são de
profundezas impensáveis, precisamos agir em rede, de forma integrada, num
movimento não de competição, mas de colaboração e aí todos sairão ganhando,
sairão vencedores, o Ministério Público não quer invadir as atribuições de
ninguém, quem disse que vamos montar delegacias, instaurar procedimentos para
apurar os crimes ocorrentes na violência urbana não o faz com a verdade, o que
queremos é investigar o crime organizado, a corrupção, lutando pela inclusão
social, pela formação cidadã. Quem vos fala conhece a polícia. No meu Estado,
em muitas cidades não temos delegados, computador, papel, nem mesmo uma humilde
sede onde possa abrigar o delegado, é o delegado, pois quando o temos, não
contamos com auxiliares para formar uma equipe, a mais básica delas, e crime
organizado, sonegação, corrupção, lavagem de dinheiro,apropriação indevida de
verbas públicas é coisa muito grande para uma instituição, que importante, mas
sem estrutura, além da independência, que nestes sertões, nestes grotões do
atraso, é algo ainda assaz estranho e se um delegado for investigar alguém que
se diz poderoso, ele será mandado para o oco do mundo, então por qual motivo se
abrir mão da experiência, do know-how desta instituição ministerial?
Ínclitos
Deputados, nossa instituição não é mais aquela dos arroubos, a cada dia nos
amadurecemos, aprendemos e a cada momento buscamos o aperfeiçoamento, o
profissionalismo, o planejamento, se existem erros vamos consertá-los, mas em
nome deles,não pode secastraresta instituição tão cara às populações invisíveis
deste Brasil Brasileiro.
Finalizando
senhoras e senhores, quem vos fala aqui é alguém que foi exilado pela seca, é
alguém que num país injusto, já viu muitos e muitos dos seus amigos de infância
tombarem inertes pelo crime e outros destruídos pela falta de oportunidadese
que pode testemunhar: Quando no meio de milhões fui salvo da boca do crime, da
droga e de outros tantos males, eu sou aquele, cujo estômago sentiu a mais
dolorosa de todas as dores, a da fome inclemente, contudo, ao bater na porta do
Ministério Público, entrei, fui solenemente acolhido e mais uma vez, sou prova:
É UMA INSTITUIÇÃO SEM PRECONCEITOS, É UMA INSTITUIÇÃO DE UM PAÍS MODERNO, QUE A
CADA DIA SE ESFORÇA POR MAIS E MELHOR SERVIR À NOSSA NAÇÃO, de forma que mais
uma vez apelo, dia 26 de junho de 2013, digam NÃO à PEC/37!
Promotor Marinho Mendes
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